O que um físico experimental tem a dizer sobre buscar o inalcançável?
Publicado em 4 de outubro de 2019João
Guilherme BrottoEste artigo faz parte de uma série de conteúdos especiais criados a partir da cobertura da NEXT Conference, evento que acontece anualmente em Hamburgo e debate os desmembramentos da revolução digital nos negócios, no consumo e em nossas vidas
Um dos motivos que me fez querer voltar a Hamburgo para cobrir a NEXT Conference pelo terceiro ano consecutivo é o cuidado que eles têm com a curadoria do conteúdo.
A cada ano há uma temática central que norteia as palestras e os debates, sempre ligados a conectar as transformações digitais com as nossas vidas. Além disso, os palestrantes são bem diversos. Todos têm boas histórias para contar, e as contam bem. Eu sempre saio de lá com a sensação de ter conseguido encaixar algumas peças para entender melhor a complexidade do mundo.
Para um jornalista interessado em descobrir histórias de pessoas e empresas que dedicam suas vidas a causas maiores do que colocar dinheiro no bolso a NEXT é uma fonte valiosa.
Mas confesso que estava um pouco preocupado com a palestra de abertura da NEXT deste ano (cujo tema central era parallelwelten, uma palavra em alemão que significa universos paralelos). Afinal, ela seria conduzida por um físico experimental que trabalha no CERN (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear)!
O que há além do universo?
Eu só estava pensando se dessa vez eles não tinham ido longe demais na missão de honrar a marca. Será que o cara iria dissertar sobre temas complexos demais e eu ia ficar boiando?
Mas não foi o que aconteceu.
Isso porque James Beacham se revelou não “apenas” uma mente fora da curva, mas um grande contador de histórias.
Mais do que cumprir uma agenda técnica sobre astronomia ou física experimental, James traduziu a complexidade do seu trabalho em reflexões filosóficas muito pertinentes para um público formado por gestores e profissionais ligados a áreas como marketing, inovação e tecnologia.
De forma muito empática e honesta, ele compartilhou suas frustrações enquanto cientista que estuda as leis da física que regem o universo, falou sobre realidades paralelas e ponderou sobre a existência de vida em outras galáxias – não negou, nem confirmou que existem; porém, foi enfático ao dizer que provavelmente nunca iremos descobrir.
É que, segundo ele, seria necessário existir um acelerador de partículas “um pouco” maior que aquele que hoje ocupa um diâmetro de 27 km em Genebra…
A boa notícia é que o CERN já anunciou planos de construir um de 100 km de diâmetro, a um custo que ultrapassa os 25 bilhões de euros. E os chineses correm para desenrolar seu projeto próprio, com previsão de lançamento para 2025.
Com esses equipamentos – que investigam teorias complexas demais para serem explicadas em poucas linhas –, a expectativa é que novas fronteiras sejam desbravadas na física e no que sabemos sobre a vida, o universo e tudo mais.
A má notícia – e símbolo máximo da frustração de James – é que mesmo esses futuros aceleradores de partículas ainda não poderão responder, por exemplo, às grandes questões da curiosidade humana que envolvem a vida em outras galáxias.
Afinal, segundo o que ele disse, para investigar universos paralelos precisaríamos de um “simples” acelerador de partículas construído em volta do sistema solar. Pensa no diâmetro!
Por que buscar o inalcançável?
Não é todo dia que se tem a oportunidade de ouvir um físico de um dos pólos científicos mais renomados do mundo falar sobre universos paralelos, ao mesmo tempo em que ri de si mesmo por saber que muitos de seus questionamentos talvez jamais sejam respondidos.
Será que neste exato momento um outro você está em uma galáxia distante vivendo uma vida paralela a sua? Pelo que James falou, possivelmente sim, mas, lamento, provavelmente você jamais terá certeza.
Isso tudo, aliás, me fez pensar em uma propaganda do Futura, o canal do conhecimento, que mostrava vários dilemas da humanidade e finalizava nos lembrando que são as perguntas que movem o mundo, não as respostas…
A construção do futuro passa pela curiosidade, pela dúvida e pelo questionamento
Ninguém faz perguntas e as estuda melhor do que a ciência. E por que não podemos incorporar um pouco dessa filosofia em nossas carreiras e empresas?
A campanha do Futura e as histórias que James contou sobre aceleradores de partículas, viagens intergalácticas e realidades alternativas nos fazem lembrar que curiosidade, dúvidas e questionamentos sempre estiveram ao lado de grandes transformações.
Há muitos sinais concretos de que o sistema que rege a economia e as relações de trabalho e consumo precisa mudar. A gente falou sobre isso aqui. Até o Financial Times se tocou disso. Tanto é que, em uma campanha recente, anunciou uma nova agenda, que defende a tese de que é hora de resetar o capitalismo. Um marco histórico!
E não existe mudança sem questionamento. Ele é a base para encontrar caminhos novos, inesperados e, quem sabe, mais promissores.
James deixou claro que mesmo sabendo que determinadas respostas são impossíveis de serem obtidas, a ciência não deixa de investigá-las. Afinal, o caminho percorrido quando se tenta descobri-las acaba gerando descobertas paralelas – algumas sequer imaginadas anteriormente.
Questione. Duvide.
O Jornalismo como ferramenta para conscientizar e derrubar mitos
Às vezes, algo é impossível porque simplesmente é.
Fatos como a inexistência de um acelerador de partículas ao redor do sistema solar e a Terra não ser plana não nos deixam esquecer disso.
Em tempos em que as regras de copywriting são mais fortes que a verdade e que as fake news formam a opinião de cada vez mais pessoas, nós temos uma preocupação enorme em preservar a essência do bom Jornalismo e promover debates sobre causas relevantes. Ainda que dentro deste nosso pequeno universo.
–> Entenda melhor nosso trabalho de correspondentes internacionais para empresas.
Fazemos isso investigando com profundidade e responsabilidade questões que combinam o ambiente de negócios com as demandas sociais, econômicas e ambientais que não podem ser desprezadas. E histórias que ilustram essas mudanças já estão sendo escritas. E nós queremos compartilhá-las com você.
Isso ficará mais claro à medida em que publicarmos mais conteúdos relacionados a pautas que envolvem como construir negócios que causem impactos positivos para as principais demandas do mundo.
Conteúdo para quem quer construir o amanhã
Esse texto faz parte de uma série de conteúdos especiais que vamos publicar a partir da cobertura de eventos que temos participado mundo afora que debatem formas mais sustentáveis de se fazer negócios.
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